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A nova vida na Praça Tiradentes

Atualizado: 4 de jun. de 2020

Ainda existem muitos problemas à espera de solução na região, mas a Praça Tiradentes, como a pesquisa mostra, tem cumprido, assim, o seu papel de ser um ponto de encontro


Profa. Sandra Sanches



A Praça Tiradentes vem entrando no roteiro das atrações do Rio, depois de anos de abandono. O carioca, que passa por aquele recanto da cidade, na sua rotina de trabalho ou nas andanças para as compras no Centro, especialmente na SAARA, tem feito do lugar histórico um novo ponto de encontro, atraído pelo surgimento de eventos, restaurantes, bares e inúmeras atrações culturais. A constatação é de uma pesquisa do Laboratório de Economia Criativa, Desenvolvimento e Território (LEC) da ESPM Rio, em conjunto com o Instituto Rio Patrimônio da Humanidade e o Centro Carioca de Design, que mapeou a geografia da praça, suas atrações e ouviu seus frequentadores. O estudo mostrou que o esforço dos agentes culturais abrigados na região começa a dar resultados. Atrações como o Tiradentes Cultural, realizado uma vez por mês, com shows musicais, gastronomia e feira de artesanato não só conquistam cada vez mais um público maior, como oferecem uma experiência que faz com que 97,7 % dos que visitam o evento recomendem o programa. Os números revelam a maneira como o carioca se apoderou do lugar. A pesquisa mostra que, durante a semana, o público que frequenta a Praça Tiradentes passa por ali em função do trabalho ou de compras. Mais da metade do total. Mas a existência de atrações como o Crab - Centro de Referência do Artesanato Brasileiro –, do Sebrae, galerias como A Gentil Carioca, centros culturais como o Hélio Oiticica, o Real Gabinete Português de Leitura e mais os teatros Carlos Gomes e João Caetano está gerando uma ocupação especial. Os visitantes da Tiradentes Cultural, por exemplo, têm um perfil jovem, média de 34 anos, a maioria (58%) é de mulheres, bom nível cultural, 37% com curso superior, 27% com algum tipo de extensão universitária. Um público novo, que não frequenta o lugar diariamente, mas costuma visitá-lo, atraído pela oferta cultural. A Praça Tiradentes tem se tornado importante alternativa de lazer: 36% visitam o lugar com amigos e 24% tem o endereço como ponto de encontro. Há gente de diversas partes da cidade, mas a maior concentração é de moradores da Zona Norte: 30,3 %, especialmente Tijuca e vizinhanças, provavelmente pela proximidade. A novidade é alentadora numa cidade que vê os espaços públicos se degradarem, com a presença de comércio irregular, pela deterioração do equipamento urbano ou simplesmente fechados pela crise econômica ou violência urbana. As obras de construção do VLT melhoraram a urbanização da Praça. O lugar está mais limpo e a segurança melhorou. Ainda existem muitos problemas à espera de solução na região, mas a Praça Tiradentes, como a pesquisa mostra, tem cumprido, assim, o seu papel de ser um ponto de encontro, objetivo principal de um espaço público. A Tiradentes é uma área histórica da Cidade. Campo dos Ciganos, Pelourinho, Praça da Constituição. Ponto de encontro de artistas e intelectuais desde o século XIX. Os teatros ainda são as atrações mais conhecidas. O Carlos Gomes é citado por 8,2% dos frequentadores, o João Caetano por 6,9%. Mas a presença do Sebrae é um atrativo, com os generosos espaços do Crab. Por isso, é reconhecido por boa parte dos visitantes, por suas exposições e eventos. De acordo com os dados coletados, quem passa pelo Tiradentes Cultural acaba visitando também outros lugares vizinhos, como a Rua do Lavradio e os bares e restaurantes da Lapa. Numa cidade tão castigada pela crise econômica e pela falta de gestão, o resgate da Praça Tiradentes é uma ótima notícia. Sobretudo porque revela que, com um mínimo de organização e presença do poder público, para garantir a limpeza e segurança, a população ocupa territórios esquecidos e dá nova vida à cidade. Tomara que sirva de inspiração. A realização do Salão Carioca do Livro, LER, no Campo de Santana, mostra que o carioca quer ampliar essas possibilidades.


*Sandra Sanches é Mestre em Economia Criativa, pesquisadora da ESPM Rio e líder do cRio.

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