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Oportunidades Climáticas e Profissões de frente para o Mar

Atualizado: 4 de jun. de 2020

David Zee*


O mundo se torna cada vez mais dependente de espaço físico para comportar com qualidade de vida a sua população que cresce para mais de 7,7 bilhões de pessoas. Os espaços continentais produtivos, habitáveis e com boas condições de acesso já estão se esgotando. Cobrindo mais de 70% da superfície do planeta o oceano com certeza será a próxima fronteira a ser ocupada. O Brasil com mais de 8.500km de linha de costa possui uma oportunidade ímpar de uso. Contudo o risco das mudanças climáticas demandam adequações para garantir a segurança do seu aproveitamento. No futuro próximo o espaço costeiro brasileiro que já concentra 26,6% da população e abriga 17 estados brasileiros vai se tornar cada vez mais valorizado e cobiçado (MMA, 2018). O desenvolvimento do Brasil sempre passou pelo seu litoral em função das facilidades de acesso e das rotas do comércio exterior.

A perspectiva da ocupação e do crescimento da população que vive na faixa costeira traz um enorme desafio para a qualidade de vida desse contingente humano no futuro próximo. Espaço físico para ocupação, segurança, saúde, emprego e alimentos são demandas futuras que poderemos usufruir do mar. Através da ciência, da tecnologia e da inovação é possível desenvolver instrumentos e métodos capazes de assegurar o uso sustentável dos recursos e dos serviços ambientais oferecidos pelo mar brasileiro.

No momento em que a Terra parou para fazer frente à ameaça de uma doença extremamente contagiosa foi possível perceber como a humanidade caminha contra si mesma. A pandemia trouxe um novo olhar sobre o meio ambiente, a sociedade e a governança. Uma nova ordem econômica pós-pandêmica considera critérios e sustentabilidade centrados em questões de qualidade de vida (sociedade), crise climática (meio ambiente) e ética da governança.

No Brasil existem inúmeras cidades costeiras que cresceram de forma oportunista e fragmentada conferindo uma enorme vulnerabilidade para qualquer fenômeno climático mais agudo. A realidade das mudanças climáticas chama atenção das autoridades governamentais para o desafio de readequar as cidades visando uma maior resiliência contra as flutuações ambientais. Trata-se de uma excelente oportunidade profissional pois a demanda por recursos humanos qualificados para enfrentar tais desafios serão enormes. Não faltam empregos, faltam profissionais competentes que saibam enfrentar esses novos desafios.

Para atuar nessa nova realidade climática que ameaça as cidades costeiras é importante entender o conceito de Risco Ambiental. Consciente desse conceito qualquer profissional poderá atender a urgente demanda pela adaptação das cidades. O risco é diretamente proporcional à ameaça climática, a vulnerabilidade da cidade e a sua exposição no litoral (Roaf et al, 2005).

(RISCO) = (AMEAÇA) x (VULNERABILIDADE) x (EXPOSIÇÃO)

A maioria das cidades brasileiras cresceu sem planejamento e por isso são carentes de infraestrutura (saneamento e drenagem) além de áreas verdes e azuis para promoverem as trocas de calor e de absorção das águas das chuvas. A falta de manutenção plena se reflete nos serviços urbanos deficientes (lixo e equipamentos urbanos). Esses são alguns dos fatores que explicam a vulnerabilidade das cidades frente às chuvas torrenciais, ventanias e ondas de calor que são algumas das ameaças climáticas.

As cidades litorâneas devido à proximidade do mar ficam expostas a ameaça das ressacas e das marés de tormenta que promovem o colapso das edificações e as inundações das planícies costeiras. Quanto mais as cidades estiverem debruçadas sobre as praias tanto maior será a sua exposição às ameaças oceanográficas.

Repare que quanto maior for a flutuação das ameaças climáticas, da vulnerabilidade das cidades e da sua exposição ao mar, tanto maior será o risco dos desastres naturais. O risco é a multiplicação desses fatores. Por outro lado, se conseguirmos anular qualquer um desses fatores o risco será zero.

Entretanto as ameaças climáticas estão cada dia piores. A vulnerabilidade é uma realidade presente nas médias e grandes cidades. Sempre haverá algum tipo de exposição das mesmas ao mar. Portanto o risco tende a ser sempre crescente. Para mitigar o risco será preciso reduzir ao máximo a vulnerabilidade e a exposição das cidades já que as ameaças ambientais estão crescentes. Além disso, o monitoramento e a previsão das ameaças climáticas, quando for possível, podem fornecer informações valiosas para a gestão de riscos e com isso administrar os custos dos desastres naturais. Assim se estabelecem as prioridades das ações preventivas ou das ações de recuperação.

Acredita-se que nos próximos anos não haverá falta de empregos. Será mais fácil haver falta de profissionais qualificados. As cidades costeiras necessitam ser adequadas para os novos cenários climáticos. Todas áreas profissionais serão uteis para esse novo desafio que se apresenta, mas para isso é preciso adquirir competências.

Hoje as universidades fornecem conhecimentos importantes para os estudantes. Conhecimento é o saber teórico das inúmeras disciplinas que requer uma determinada profissão. Contudo um profissional qualificado, além de conhecimento, precisa adquirir habilidade e saber cultivar atitudes propositivas.

Habilidade é o saber como fazer e não se obtém somente nas escolas. Esta também depende da experiência a ser adquirida pela prática das inúmeras tarefas inerentes a uma determinada atividade. Estágios em empresas e mesmo atividades de pesquisa aplicada além da própria produção de monografias e teses podem contribuir na aquisição de habilidades essenciais.

Entende-se por atitude o comportamento que cada um deve ter quando decide se comprometer e doar o melhor de si para atingir uma determinada meta. Capacidade de realização, perseverança, foco, disciplina e dedicação são alguns dos predicados daquele que tem atitude.

Portanto a fórmula da competência também é composta pela multiplicação dos fatores, conhecimento, habilidade e atitude. Se algum deles for nulo a competência também se anula. Se soubermos cultivar esses fatores, a competência se multiplica.

Assim como as cidades costeiras devem se adaptar para sobreviver a uma nova realidade climática, está na hora de pensarmos nas nossas competências se também quisermos sobreviver profissionalmente amanhã.

Referências


Ministério do Meio Ambiente, Secretaria de Recursos Hídricos e Qualidade Ambiental, Departamento de Gestão Ambiental Territorial. Programa Nacional para Conservação da Linha de Costa-PROCOSTA. MMA, Brasília-DF, 2018. 38p.


Roaf, S.; Crichton, D.; Nicol, P.. A Adaptação de Edificações e Cidades às Mudanças Climáticas. 2005. Tradução Alexandre Salvaterra. Bookman, Porto Alegre, 2009. 384p.


*Engenheiro e oceanógrafo, professor da Faculdade de Oceanografia da UERJ

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