Verônica Marques*
As transições sociais, econômicas e ambientais vivenciadas nas últimas décadas trouxeram diversos desafios para o design. Por um lado, há a busca por novas formas de engajamento emocional. Por outro, a necessidade de abordagens que entreguem soluções para problemas. Neste cenário, profissionais e estudiosos navegam em busca de novas formas, formatos e funções que se proponham, tanto a resolver adversidades, como a potencializar o imaginário e o lúdico. Em todos os casos, o desenho, a modelagem e a criatividade continuam transcendendo as várias vertentes do próprio processo.
“O design é o campo mais aparelhado para desenvolver teorias sobre a noção de projeto, configurando coisas, processos e sistemas que dão diferencial aos designers. É fundamental evidenciar o processo ou os processos pelos quais as coisas vêm ao mundo. O design no Brasil ainda não se definiu como consequente, mas precisa se debruçar em problemas mais complexos e formular sistemas que abordem temas profundos da sociedade”, afirma o professor da UERJ, João de Souza Leite. Ele participou, no último dia 16 de novembro, do I Congresso Ibero-americano Interdisciplinar de Economia Criativa, promovido e realizado pela ESPM Rio.
O desafio torna-se, então, extrapolar a própria compreensão do universo do design indo da atividade específica para o projeto, o que se deu especialmente a partir da revolução industrial. Nesta caminhada, o designer irá se deparar com as conexões entre a economia criativa, a inovação, a multidisciplinariedade e a cocriação. De acordo com Bruno Temer, da Super Nova Fibra, as soluções técnicas e estratégicas para a resolução dos problemas ambientais, por exemplo, já existem, mas é o design que aporta a criatividade e a emoção.
“A parte mais importante do design é entender o problema que quer resolver e não apenas valorizar a ideação. O lixo é um erro de desenho. É um erro de projeto. Muitos designers não pensam no ciclo de vida daquilo que eles estão colocando na rua”, afirma Temer.
Conexões entre projetos e emoções
A criação pela criação é insuficiente na contemporaneidade, pois há a necessidade de engajar através do design emocional, que se relaciona com a interpretação do outro e dos sentimentos que o emocionam. Só assim é possível desenhar produtos e organizações que tragam em seu centro a inovação, a utilidade, a instintividade, a durabilidade e a facilidade de uso e compreensão, ainda que se apresentem de forma bastante detalhista.
“O designer é o tradutor dos problemas da sociedade. Ele os interpreta e consegue encontrar uma solução em um processo que não é linear e que começa na empatia. O designer fala diferentes linguagens. O papel do designer hoje na sociedade é trabalhar em grupo com diversos especialistas. Ele deve dar ordem e dar sentido com ferramentas e metodologias para dar respostas aos problemas sociais existentes. O design vai deste o sentido mais humano até as disciplinas mais lógicas”, destaca a professora da Kedge Marseille, Susana Paixão-Barradas.
Observar o design emocional implica ainda em compreender as conexões entre interatividade, e narrativa, especialmente pela forma como as pessoas interagem e se apropriam do conteúdo a partir das formas que são inventadas. Neste sentido, a tecnologia usada na construção das experiências pelos designers está a serviço da mensagem e da emoção e precisa ofertar significado ao mesmo tempo em que o conteúdo precisa brincar com o lado lúdico.
“Há um objetivo, mas o que importa é o caminho. As experiências vêm das pesquisas constantes que estão sendo feitas. É preciso trazer significado para o trabalho porque a mensagem é o mais importante. A não-linearidade é muito importante também porque a pessoa que absorve esse conteúdo é dona do seu caminho e do seu aprender. Para isso, a gente sempre extrapola a tela. O trabalho deve falar por si. É ligar os pontos. É fazer conexões improváveis, buscando algo original”, finaliza Liana Brazil, da SuperUber.
* Veronica Marques é docente da ESPM Rio e integra a equipe do cRio.
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